E o que mais tem me feito pensar, com certeza, foram todos os relacionamentos que já tive. Quando digo relacionamentos eu me refiro a tudo: amigos, trabalho, namoradas e afins, família e outras pessoas menos importantes na minha vida.
E a conclusão que cheguei é que às vezes a gente se prende demais. Às vezes mantemos relacionamentos por puro medo, por insegurança, por comodismo, sem perceber que mante-los acabam por consumir nossa energia, nosso ânimo, nosso tempo, enquanto poderíamos estar investindo tudo isso em coisas melhores.
É difícil lidar com isso, pois envolve uma série de fatores alheios a nós. E quase sempre acabamos arrastando essas relações morimbundas simplesmente por não saber lidar com elas. Acabamos por esquecer o que realmente importa e passamos a enxergar só as coisas ruins. Isso se deve em parte à nossa natureza desajeitada e egoísta. Somos seres possessivos e apesar de dizerem que também somos "racionais", eu acredito que há pouco espaço para racionalidade quando estamos sendo possessivos - o que acontece a maior parte do tempo.
Nenhum amigo que você "tenha" é realmente seu. Nem suas namoradas ou as "exes". Ninguém, nem mesmo "sua" mãe ou seu pai. Chamamos de "nosso", de "meu" ou de "seu" puramente pela inexistência de um pronome outro. O próprio nome já entrega: "pronome possessivo"... Possessivo por quê? Por falta de termo melhor, por conveniência, por convenção.
As pessoas com quem mantemos contatos são apenas seres simpáticos (ou melhor, empáticos) que por algum motivo inexplicável, em algum momento, em algum lugar, por sintonia, afinidade ou conveniência, entraram em acordo conosco e decidiram manter um contrato informal de relacionamento. Só isso e nada mais. É assim que eu enxergos relacionamentos hoje: um caminho que concordamos percorrer junto com alguém. Ninguém é dono de ninguém, ninguém manda em ninguém, ninguém tem obrigação nenhuma para com ninguém. E quando acontece o inevitavel? Quando o contrato deixa de valer? Quando a relação deixa de ser uma via de mão-dupla? Quando decidimos se é hora de tomar outros rumos ou se separar?
Quando o contato já não traz mais benefícios a uma das partes ou a ambas, o que fazer? É simples. Termine. Deixe estar. Abra mão. Abra mão daquilo que não te faz mais bem, daquilo que te consome, que te prende, que te impede de crescer. Seja um amigo, um sócio, namorado(a), ficante, irmão, pai, filho... não importa, largue mão!
Eu entendo que relacionamentos (de qualquer natureza) DEVERIAM ser criados e serem nutridos e sustentados na base do amor, do respeito, da confiança, da honestidade, da compreensão, da compaixão, da atenção, da dedicação, e por que não dizer, da alegria? E isso deve vir de ambas as partes, não de apenas uma. Quando isso acontece de um lado só, não é um relacionamento de verdade, isso é exploração.
Um relacionamento é um "negócio". Quando assumimos ou aceitamos nos relacionar com uma pessoa é porque temos interesses específicos que nos motivam a conquistar e manter essa relação. E se o contrato "vingar" é porque essa pessoa também tem interesse em manter um relacionamento conosco. Parece algo estranho, mas não há nada de errado nisso. Nós não somos completamente independentes e sim, somos extremamente CARENTES de afeto, de atenção, de reconhecimento, de amor. Nós nos relacionamos para tentar suprir partes da nossa carência. Não importa COMO as coisas "acontecem", o que importa é que temos que ter claro que são sempre escolhas. E você escolhe manter um relacionamento com alguém porque QUER, porque te faz bem, porque te ajuda a suportar a dor de viver neste mundo.
Mas o tempo passa, as coisas mudam, as pessoas "mudam" e você também. Sendo honesto, eu realmente acredito que poucas pessoas MUDAM de verdade – leia aqui porque penso isso. Eu já percebi que o que realmente muda são as circunstâncias – as rotinas, os círculos sociais, os interesses, os gostos, etc; são os “momentos da vida” pelos quais as pessoas passam. Então me conformei que as pessoas geralmente não mudam ou mudam muito pouco e aceitei que quando um relacionamento “não é igual era antes” é porque acabamos nos “desencontrando” em nossos momentos da vida, porque nossos universos particulares estão “fora de sintonia”. Nesse momento começam os desentendimentos e os atritos, aí você pára pra pensar “porque as coisas estão assim” e se vale mesmo a pena manter esse tipo de relacionamento.
Mas é difícil compreender o que nos leva a “gostar” de outra pessoa e o que nos faz querer te-la por perto. Foi aí que me dei por conta de que não tudo isso não importa. Não importa quais motivos ou quais foram as condições que levaram você a criar vínculo com alguém. Não importa por quanto tempo você manteve vínculo com a outra pessoa. O que importa é a qualidade desse vínculo, que basicamente é o resultado da combinação do seu EGO (personalidade e caráter) com o do outro.
Se os problemas no relacionamento são condicionais, se são causados por fatores externos, pela conjuntura, é possível contornar esses obstáculos somente conversando e ajustando os pontos de vista, as prioridades e agendas. Agora se o relacionamento está se desgastando por conta de atritos gerados pela incompatibilidade de visão de mundo entre as partes, por hábitos e atitudes nocivos de qualquer uma das ou de ambas as partes, se não há diálogo de fato entre as partes, se é costume projetar as frustrações, rancores e culpas no outro, então temos um vínculo conturbado.
Se seu relacionamento está mal por causa de CONFLITO DE EGOS, mas mesmo assim você acha que vale a pena salva-lo, só há uma coisa a ser feita: ponderar o que VOCÊ pode fazer para reverter a situação, o que está dentro do SEU alcance para melhorar a relação. O resto você não pode mudar - tudo que se refere ao OUTRO. E há de ser sensato e honesto: essa relação VALE MESMO A PENA ou estou apenas com medo de abrir mão, de magoar o outro, de sofrer com essa perda, de ficar sozinho? Você conhece (ou deveria conhecer) a outra pessoa, saber o que te atrai nela e o que você abomina. Você sabe como ela se comporta – se ela realmente te escuta, se ela presta atenção em você, se ela é egoísta, se ela realmente se interessa no que acontece na sua vida e em como você está ou se isso não passa de papo para puxar conversa. Você deveria saber a essa altura se ela SE IMPORTA de fato com você. Repito, se ela não se importa, é melhor cair fora. Mas se ela realmente se importa, você consegue relevar todas as falhas de caráter dela?
Se mesmo assim você achar que sim, vale a pena manter esse relacionamento e que você consegue lidar com os defeitos do outro, então é preciso aceitar a seguinte verdade: você DECIDIU manter esse relacionamento. Não espere que a outra pessoa melhore. Não espere que ela mude. Portanto, não RECLAME. Aceite, saiba lidar com os defeitos dela (que você já conhece tão bem). Aceite que as coisas não vão mudar assim tão rápido ou tão fácil. Aceite que a única possibilidade real e imediata de mudança é a REAÇÃO da outra pessoa frente à SUA mudança de comportamento.
Se você está ciente disso e conformado com a realidade e mesmo assim decidir levar as coisas adiante, é bom adotar algumas posturas:
- Seja firme nas suas decisões. Deixe claro o que você pensa e o que você quer. Assuma seus erros e demonstre o quanto está disposto a fazer as coisas funcionarem. Não prometa, apenas faça.
- Peça, comunique-se. Um dos maiores, se não o maior destruidor de relacionamentos, é a comunicação – ou melhor dizendo, a falta dela.
- Seja coerente. Não adianta falar uma coisa e fazer outra. Também não adianta reclamar de uma coisa e fazer igual, ou usar o erro do outro de desculpa para os seus.
- Seja justo e seja honesto. Saiba relevar as atitudes do outro – já que você sabe como ele funciona - mas não deixe de dizer quando se sentir incomodado. Critique os erros, não a pessoa – diga o quanto essas atitudes prejudicam o relacionamento e te incomodam.
- Faça com que a outra pessoa te leve a sério. Se o outro não sabe agir como um adulto, deve ser tratado como criança. Imponha regras, não faça concessões. Adote um sistema de punição/recompensa. É triste, mas as vezes as pessoas precisam ser cuidadas como cachorrinhos mesmo.
- Não tenha medo nem vergonha de adotar essas atitudes. Se você deixou claro que QUER melhorar o relacionamento e que está disposto(a) a se esforçar para que dê certo e a outra pessoa compreendeu e aceitou seus termos ela deveria CONCORDAR com isso. Se ela não concordar ou então reclamar... desista, você está sozinho.
Oieee eu li! depois comento com vc!! BJO Claudia
ResponderExcluirMuito bom fico supresa de conhecer esse lado do Gabriel...ótimo.Tereza Trovões
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